quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Em Tomar (1515-1516)

O domínio artístico e técnico que vinha revelando (os especialistas falam, já se viu, da obra-prima que fez em Braga e a que fez na Vila não é somenos - lembrem-se as esbeltas colunas e os arcos de meia volta que separam as naves da Matriz, as abóbadas das absidíolas, o arco abatido que sustenta o coro, o monumental pórtico plateresco, que mereceu ser copiado para Azuaga, província de Badajoz) e, a outro nível, o seu pioneirismo organizativo, verdadeiramente empresarial no sentido moderno, projectam-no a nível nacional.
Chamado em 1515 para a igreja do Convento de Cristo em Tomar, depois de provavelmente ter passado por Viseu, esculpe, em réplica à famosa janela de Diogo de Arruda, o belíssimo pórtico, que data e assina. Cabe-lhe também abobadar o templo. Sobre o portal de Tomar, exprime-se assim certo crítico[1]:
Comecemos pelo portal. Aí, junto à base do lado direito, João de Castilho deixou a sua assinatura e a data de conclusão da obra em iniciais e abreviaturas: João de Castilho construiu em 1515. E uma construção que se filia na corrente peninsular que a historiografia tradicional tem chamado de isabelina, isto é, do tempo de Isabel, a Católica, num gótico final complicado, redundante, com elementos dificilmente conciliáveis e, em geral, sem grandes volumes. Notam-se, no entanto, algumas novidades, um certo barroquismo, que terá de se imputar ao contributo dos canteiros locais e até à adopção da estética lusitana, ali tão patente na obra dos Arruda.
O vão da porta tem terminação semicircular, com arquivoltas constituídas por colunelos finos e intercolúnios com decoração variada, em que alternam os grutescos proto-­renascentistas com a funda folhagem, na qual os pedreiros introduziram pássaros, amores, etc.
As estruturas góticas ainda estão presentes, mas com uma complexidade maior que o habitual, e, se esta portada ainda não atingiu o estádio do que classificamos como manuelino, respira já de um ar que o anuncia para breve. A parte superior faz lembrar composições coevas castelhanas, com pilaretes ou agulhas a subirem na vertical e a dividirem a página de fundo em três corpos, nas quais se sobrepõem mísulas-dosséis que suportam e abrigam esculturas sacras de talhe rude, mas de bom efeito plástico. Um dossel avança a proteger toda a construção, com uma pequena abóbada de nervuras e o arco belamente debruado com cairéis em forma de corais. No eixo distinguem-se a figura de Nossa Senhora com o Menino ao colo e, inferiormente, a esfera armilar que dois amores sustentam sobre uma urna de feição renascentista. Atente-se ainda na ligação do portal às paredes laterais, conseguida por João de Castilho através da complicação das bases dos botaréus e da colocação de enrolamentos estriados horizontais sem qualquer outra função que a decorativa.

[1] DIAS, Pedro, Arquitectura Manuelina, Livraria Editora Civilização, Porto, 1988, p. 137.

Imagens: Trecho do pórtico da igreja do Convento de Cristo de Tomar (em cima); assinatura de João de Castilho e data no pórtico do Convento de Cristo (em baixo).

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